domingo, 7 de março de 2010

Faroeste dos Pampas


FAROESTE DOS PAMPAS

Este editorial nasceu da profunda admiração por filmes de faroeste e sua estética rude e cheia de estilo. Como cenário escolhemos o pampa gaúcho, por sua semelhança com o ambiente dessas produções, sol escaldante e muitos cavalos. Da fusão entre esses dois mundos surgiu um gaucho chique e imagens que lembram o filme Bandidas com as belas Penélope Cruz e Salma Hayek.







           












Produção e Make-up: Las Meninas
Roupas e acessórios: Acervo Las Meninas
Locação: Estância de Santo Antônio e Estância do Limoeiro- Bagé - RS
Modelo: Carol Meneses
Fotografia: Juliana Geisel
Agradecimentos: José Francisco Botelho, José Maria Tavares Botelho, Maria Daniela Botelho e Iara Maria Tavares Botelho.




PARA ALÉM DAS BOTAS DE COWBOY: 
O cinema faroeste e a moda.


Os filmes do gênero faroeste sempre sofreram algum preconceito dentro da indústria cinematográfica e mesmo entre o público, atraindo apenas parte dele. No auge do star system hollywoodiano, nos anos 40 e 50, a produção desse gênero de filmes aumentou. Eles eram considerados filmes populares. Baseavam-se em um período real da história norte-americana, o da corrida do ouro e do deslocamento da população para o oeste, processo que deu origem a novas cidades, distantes da capital, onde imperava o crime. Na tênue fronteira entre os EUA e o México; nas lutas de resistência dos últimos índios à dominação branca, fervilhavam histórias de mocinhos e bandidos. Por seu teor violento, envolvendo duelos, o gênero acabava atraindo mais o público masculino, mas as mulheres tendiam a se encantar com os mocinhos. O mais célebre ator do gênero nesse período foi John Wayne, tendo uma longuíssima carreira. Um de seus primeiros filmes, “No tempo das diligências”, é um clássico do gênero, feito no início dos anos 40 em preto e branco, dirigido pelo cineasta John Ford.


Já nos anos 60 surge um diretor e com ele um ator que transformaram o faroeste em obra de arte. Esses filmes eram preconceituosamente chamados de “faroestes espaguete”, por serem produzidos na Itália e dirigidos por italianos. Entre os mais importantes diretores desse grupo está Sérgio Leone. Sua célebre trilogia: “Por um punhado de dólares”, “Por uns dólares a mais” e “O bom, o mau e o feio”, apresentam uma riqueza cinematográfica ímpar. Usando técnicas de filmagem diferentes, com enquadramentos que focavam de forma dramática o rosto dos personagens, Leone carregava a bagagem do cinema italiano, usando tipos abrutalhados, tornando suas histórias mais realistas.

Essa trilogia impulsionou a carreira de um jovem ator americano na época, Clint Eastwood. O tipo cowboy criado por ele tornou-se praticamente um modelo ideal. A cara fechada, calado e com uma postura garbosa e audaz. Clint faria muitos outros filmes de faroeste, tornando-se também um grande diretor. Além de dirigir, atuava em seus próprios filmes, criando obras como: “O Estranho sem nome”, e o clássico “Os Imperdoáveis”. Ele dirigiu uma dezena de filmes de outros gêneros também, mas podemos perceber que permaneceu nele um toque do que aprendeu trabalhando com Leone. O uso de tipos fortes e verdadeiros, rudes e grosseiros, mas que acabam conquistando nossa simpatia.


O cinema faroeste nunca caiu no esquecimento. No final da década de 60 surgiram filmes importantes como “Butch Cassidy and the Sundance Kid”, com Paul Newman e Robert Redford, que contava a trajetória de uma dupla de bandidos que existiu na realidade e desafiou a polícia do velho oeste. Já “Era uma vez no oeste”, a primeira produção de Sérgio Leone nos Estados Unidos, contava com um elenco famoso que incluía a bela italiana Cláudia Cardinale.





A figura feminina nem sempre é a figura central dos filmes de faroeste, mas quando aparecem são mulheres fortes e destemidas que devem sobreviver num meio hostil. A maioria delas são prostitutas, ou mocinhas indefesas, que no fim das contas acabam tendo que pegar em armas, como Grace Kelly no clássico “Matar ou Morrer”, que do alto de seu ar de anjo atira em bandidos para salvar seu amado marido vivido por Gary Cooper. Algumas tentam sobreviver sendo oportunistas, como a personagem de Renéé Zellweger no recente “Apaloosa”.





Os figurinos dos filmes de faroeste possuem muitas peculiaridades que acabaram inspirando a moda. A pouca presença feminina torna o traje do homem mais destacado. Enquanto elas vestem espartilhos justos e saias com pequenas ancas traseiras, que era a estética geral das mulheres de finais do século XIX, os homens têm toda uma forma própria de trajar. Claro que essas heroínas são mais brejeiras e empoeiradas; aliás, o ar poeirento é essencial num visual western. Os homens usam botas de vários tipos, nem só de cowboy. por exemplo, o elegante personagem de Lee Van Cleef no filme “Por uns dólares a mais”, que usa bem lustradas botas de montaria pretas combinando com seu modelito total nessa cor.


As calças usadas são em geral justas, de sarja bege, e além delas há acessórios indispensáveis como as sobre-calças de couro franjado. E muitos chapéus, claro. mas engana-se quem pensou nos chapéus tipo peão de Barretos. Os chapéus eram de couro, feltro e vários tecidos, e podiam ter a copa mais alta, abas mais curtas e mesmo abas amplas. Essa aba torcida para cima é invenção bem mais recente. O uso do couro e das franjas deve-se à influência dos índios, já os ponchos e chapéus têm influência dos vizinhos mexicanos. O velho oeste do cinema não é exatamente o que existiu na história, é uma terra que praticamente se perde geograficamente para existir apenas em nossa imaginação. Seu estilo atemporal não cessa de derramar influência sobre o que vestimos ainda hoje. Por isso dê uma espiada em nosso editorial “Faroeste dos Pampas” e assista aos filmes indicados nessa matéria, faça essa viagem, a cavalo e bem armado.


TEXTO: Laura Ferrazza de Lima