segunda-feira, 25 de março de 2013

Ronaldo Fraga: polêmica no SPFW




O desfile de Ronaldo Fraga no último São Paulo Fashion Week (no segundo dia de desfiles – 19 de março de 2013) gerou muita polêmica. O estilista, juntamente com o maquiador Marcos Costa, resolveu usar palha de aço no cabelo das modelos para representar o cabelo negro em um desfile que tinha como inspiração o futebol de várzea e a cultura negra dos anos 1930, 40 e 50 no Brasil. O movimento negro, representado nas discussões pelo diretor executivo da Educafro (Educação e Cidadania de Afro-descendentes e Carentes), Frei David Santos, - além de milhares de internautas nas redes sociais – lamentou o uso do material no desfile, acusando o estilista de racismo justamente por usar um elemento que por muito tempo tem sido motivo de discriminação. Quem nunca ouviu comentários que cabelo de negro é igual a Bombril? Aparentemente o intuito do estilista não era o de gerar polêmica ou ser preconceituoso – como bem demonstram suas colocações nas redes sociais e revistas especializadas –; ainda assim, o episódio denota certa ingenuidade por parte da produção.
O fato levanta uma reflexão mais profunda sobre a relação entre o universo da moda e a inclusão social. O pequeno número de modelos negras que vemos nas passarelas (menos de 10%) e as vagas referências à cultura afro são questões notoriamente polêmicas. Esse quadro vem mudando lentamente, mas a situação ainda está bem longe de ser ideal – ou simplesmente justa. O Brasil é um país onde a maioria da população é negra, mas os espaços da moda ainda não os representam de forma satisfatória.
A moda sempre foi um instrumento cultural: através dela, comportamentos são gerados e moldados. Hoje, mesmo sendo símbolo (e item) de consumo da população brasileira – de todas as camadas sociais –, o universo da moda ainda carece de referências negras. A falta de pesquisa e, talvez, de sensibilidade social são elementos que levam estilistas renomados a cometer erros, mesmo que esses não sejam intencionais.
            No caso de Ronaldo Fraga, é preciso lembrar que ele é um dos estilistas brasileiros que mais valorizam a cultura nacional em suas criações. Certos temas são tão delicados que, uma vez abordados, podem gerar resultados imprevisíveis, por melhores que sejam as intenções. O que esperamos é que a moda, assim como as demais esferas da sociedade, possam ser verdadeiramente democráticas. Assim, quem sabe, possamos ver representada a grande diversidade de etnias que compõe o povo brasileiro. Além da beleza em tamanhos diversos –  mas isso fica para um próximo post.  

Texto: Luísa Kuhl Brasil

segunda-feira, 11 de março de 2013

Ninfa do Campo


Esse editorial teve como inspiração a arte dos Pré-Rafaelitas (veja post sobre o tema no blog) e a figura mitológica da Ninfa. Consideradas divindades menores dentro do panteão Greco-romano, nem por isso deixaram de povoar a imaginação dos artistas ao longo da história. Donas de uma beleza etérea, elas seriam espíritos femininos fortemente relacionados com a natureza. Encontramos definições de ninfas tais como: "fadas sem asas, leves e delicadas". Essa leveza e graça foram muito apreciadas pela arte. Sua beleza e juventude eram duradouras. Associadas ao amor e à sedução, embora jamais de forma vulgar, são capazes de encantar desde deuses até mortais. Com o presente ensaio, pretendemos criar uma simbiose entre a moda, a arte e a mitologia.


Vestido Atmosphere



Vestido Farm




Vestido Farm



Vestido Maria Bonita Extra





Fotos: Roger Porto - flickr.com/rogerporto
Produção: Laura Ferrazza de Lima
Assistente de Fotografia e de Produção: Luísa Kuhl Brasil
Modelo: Vanessa Bernardes
Cabelo e Make: Las Meninas
Roupas: Acervo Las Meninas
Locação: Estância Santo Antônio - Bagé - RS
Agradecimentos: José Francisco Botelho, José Maria Tavares Botelho, Vitória Valério, Luiza Corral, Bruna Barbachan, Danilo, Maria Elizabeth Brasil.  

sábado, 9 de março de 2013

Inspiração do Mês!



Os Pré-Rafaelitas

Ophelia de J. W. Waterhouse, 1889.

  O movimento pré-rafaelita não foi exatamente (ou não foi apenas) um estilo artístico - mas uma espécie de confraria de artistas de várias origens, principalmente pintores, movidos por uma série de ideais estéticos pouco ortodoxos. A peculiaridade das suas propostas, por sinal, fez com que, durante muito tempo, o grupo   não fosse devidamente valorizado na história da arte. Surgido na Inglaterra no século XIX, o movimento pré-rafaelita pretendia resgatar o espírito da arte anterior ao Renascimento. Na opinião desses artistas, todos os problemas da arte teriam iniciado com o italiano Rafael Sanzio (1483 - 1520). Valorizavam a estética do medievo tardio, e seus quadros se inspiravam em poemas e lendas anteriores à época de Rafael - daí o nome do movimento. A Idade Média que interessava aos pré-rafaelitas era, obviamente, bastante romantizada, ao gosto do século XIX. Histórias arturianas estavam entre seus temas favoritos. Apesar desse encantamento pelo passado, o movimento ocorreu no mesmo momento em que muitos artistas se desprendiam de uma arte tradicional, de inspiração clássica, e inauguravam a arte moderna. 
  A revalorização atual dos Pré-Rafaelitas se faz notar em diferentes áreas. Na arte, eles ganharam uma enorme exposição em Londres, na Tate Britain, que se encerrou em 13 de janeiro de 2013. Nela, destacam-se desde obras de arte até objetos pessoais de representantes desse grupo, considerado de vanguarda pela curadora da exposição. Na moda, alguns ensaios fotográficos tem se inspirado na estética desses artistas, como o de Steven Meisel para a Vogue americana. O blog Las Meninas publicará em breve um editorial de moda com essa temática. Este ano, o movimento chega, também, ao cinema no filme Effie, que tem Dakota Fenning no elenco e retrata a vida do crítico de arte e patrono do movimento John Ruskin (1819 - 1900).

  Uma das personagens que ganhou diferentes versões dos pintores pré-rafaelitas foi Ofélia, da tragédia shakespeariana Hamlet. Ofélia tem o azar de se apaixonar pelo personagem-título do drama - um príncipe de mente conturbada, obcecado por vingar a morte de seu pai. O problemático caso de amor acaba levando ofélia à loucura e ao suicídio por afogamento. Abaixo, algumas das pinturas inspiradas em sua história e que serviram de referência ao nosso editorial:
  

  De John William Waterhouse. Uma Ofélia soturna passeia pela floresta segurando o vestido. 


De Arthur Hugues. Uma Ofélia misteriosa posa próxima a uma árvore. (1865)


De John Erevertt Millais. A pintura mais famosa retrata Ofélia no momento do suicídio, mergulhada na água, numa morte mais poética que dramática. (1851).


Texto: Laura Ferrazza de Lima