terça-feira, 25 de junho de 2013

Donwton Abbey: o estilo do início do século XX.


A série britânica Downton Abbey estreou em 2010 com grande sucesso de público e crítica. Escrito por Julian Fellowes, a série retrata o cotidiano da família aristocrática dos Crawley e seus criados em inícios do século XX.
No vaivém das escadas que separam o upstairs e o downstairs de Dwonton Abbey, propriedade fictícia em Yorkshire, reside o grande trunfo da série. O entrelaçamento das histórias da família Crawley com as de seus criados revela um mundo em rápidas transformações – desde a popularização da energia elétrica e do telefone às novas contingências e mudanças nas relações sociais em uma Inglaterra em vias de decadência.
As histórias entrelaçadas ultrapassam redutos alegóricos dos “patrões” e dos “empregados”, tornando-se um enredo só. Os dramas vividos pelos Crawleys são sentidos pelos seus criados, ao passo que aqueles, herdeiros de uma nobreza estacionária, vivem para a propriedade e para seus criados. As mudanças impostas pelo capitalismo afetam a vida de todos, e as perceptíveis fraturas na velha ordem social no coração do Reino Unido são expostas de uma maneira sensível e bela.
A série já conta com três temporadas, com uma quarta prevista ainda para 2013. Vencedor de vários Emmys em 2011, a série consagrou-se no mundo anglófono, recebendo o prêmio de melhor série em diversos festivais. Seja pela riqueza histórica e cuidado nos detalhes ou pela delicadeza dos diálogos e dos dramas vividos pelos complexos personagens que habitam Downton Abbey, essa é uma série que sem dúvida já marcou a história da televisão.

Texto: José Augusto Ribas Miranda - Mestre em História pela PUCRS.

Além de todas as qualidades apontadas pelo Zé sobre a série, gostaria de acrescentar o ótimo figurino e a produção de arte impecáveis, que nos transportam para a década de 1910. O início do século XX é uma época de muitas mudanças que se expressam na vestimenta. Os espartilhos muito apertados e saias sino do final do século XIX começam a ceder – e a imagem da mulher estática entra em crise. A velha matriarca da família Crawley ainda é adepta dessa estética – já as mulheres mais jovens da família são mais modernas. Utilizam somente os espartilhos na altura do busto, as saias mais ajustadas e retas. O estilo contudo é discreto, como mandam os hábitos de uma família tradicional. A filha mais nova é a mais ousada. Ela usa, em um episódio da primeira temporada, um traje em estilo oriental, que lembra as produções criadas por Paul Poiret.
A mulher do período retratado começa a ocupar mais o espaço público, trabalha fora, participa das manifestações pelo voto feminino. Todas essas transformações sociais – e, posteriormente, a Primeira Guerra Mundial – resultam em mudanças estéticas importantes na maneira de vestir. A roupa passa a ser mais prática, buscandp elementos do guarda roupa masculino. A mulher não é mais um bibelot inacessível, mas pode ser uma sedutora Sherazade inspirada pelos espetáculos dos Ballets Russos.



Texto: Laura Ferrazza de Lima