A
série britânica Downton Abbey estreou em 2010 com grande sucesso de público e
crítica. Escrito por Julian Fellowes, a série retrata o cotidiano da família
aristocrática dos Crawley e seus criados em inícios do século XX.
No
vaivém das escadas que separam o upstairs
e o downstairs de Dwonton Abbey,
propriedade fictícia em Yorkshire, reside o grande trunfo da série. O
entrelaçamento das histórias da família Crawley com as de seus criados revela
um mundo em rápidas transformações – desde a popularização da energia elétrica
e do telefone às novas contingências e mudanças nas relações sociais em uma
Inglaterra em vias de decadência.
As
histórias entrelaçadas ultrapassam redutos alegóricos dos “patrões” e dos
“empregados”, tornando-se um enredo só. Os dramas vividos pelos Crawleys são
sentidos pelos seus criados, ao passo que aqueles, herdeiros de uma nobreza
estacionária, vivem para a propriedade e para seus criados. As mudanças
impostas pelo capitalismo afetam a vida de todos, e as perceptíveis fraturas na
velha ordem social no coração do Reino Unido são expostas de uma maneira
sensível e bela.
A
série já conta com três temporadas, com uma quarta prevista ainda para 2013.
Vencedor de vários Emmys em 2011, a série consagrou-se no mundo anglófono, recebendo
o prêmio de melhor série em diversos festivais. Seja pela riqueza histórica e
cuidado nos detalhes ou pela delicadeza dos diálogos e dos dramas vividos pelos
complexos personagens que habitam Downton Abbey, essa é uma série que sem
dúvida já marcou a história da televisão.
Texto: José
Augusto Ribas Miranda - Mestre
em História pela PUCRS.
Além
de todas as qualidades apontadas pelo Zé sobre a série, gostaria de acrescentar
o ótimo figurino e a produção de arte impecáveis, que nos transportam para a década
de 1910. O início do século XX é uma época de muitas mudanças que se expressam
na vestimenta. Os espartilhos muito apertados e saias sino do final do século
XIX começam a ceder – e a imagem da mulher estática entra em crise. A velha
matriarca da família Crawley ainda é adepta dessa estética – já as mulheres
mais jovens da família são mais modernas. Utilizam somente os espartilhos na
altura do busto, as saias mais ajustadas e retas. O estilo contudo é discreto,
como mandam os hábitos de uma família tradicional. A filha mais nova é a mais
ousada. Ela usa, em um episódio da primeira temporada, um traje em estilo
oriental, que lembra as produções criadas por Paul Poiret.
A
mulher do período retratado começa a ocupar mais o espaço público, trabalha
fora, participa das manifestações pelo voto feminino. Todas essas
transformações sociais – e, posteriormente, a Primeira Guerra Mundial – resultam
em mudanças estéticas importantes na maneira de vestir. A roupa passa a ser
mais prática, buscandp elementos do guarda roupa masculino. A mulher não é mais
um bibelot inacessível, mas pode ser uma sedutora Sherazade inspirada pelos
espetáculos dos Ballets Russos.
Texto: Laura Ferrazza de Lima